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Juro baixo demora a fazer efeito na economia

23 de abr de 2018 | Por IBBRA Consultoria falando sobre Economia e atualidades

Por Alex Ribeiro, Valor Econômico, Rio de Janeiro

23 de abril de 2018

 

O Banco Central está confiante que os cortes de juros estão cumprindo o papel de estimular a economia. Os dados mais fracos deste começo de ano são oscilações normais numa trajetória de retomada consistente da atividade. Os juros bancários e concessões de crédito estão respondendo aos estímulos monetários.

 

Autoridades do BC tem repetido essas mensagens em encontros fechados e abertos com investidores, muitos dos quais estão céticos sobre o ritmo da retomada. Alguns deles fizeram estudos que sugerem entupimento em parte dos canais de transmissão da política monetária, como crédito e investimentos.”Esse ciclo é diferente?”, questionou, de forma retórica, o diretor de assuntos internacionais do BC, Tiago Berriel, em apresentações a investidores nas reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Para o BC, não há nada de novo.

 

Estudo divulgado no relatório de inflação de março sustenta que, depois que o BC cortou a Selic, os juros bancários caíram e as concessões de crédito aumentaram, seguindo o padrão dos quatro ciclos de distensão dos últimos 15 anos. “A política monetária tem sido efetiva em reduzir o custo de financiamento e estimular o crescimento econômico”, conclui o estudo.

 

Parece um debate apenas de especialistas, mas há repercussões práticas: se os juros não surtiram efeito para recuperar a economia da maior recessão em décadas, o Comitê de Política Monetária (Copom) teria que cortar mais. O BC defende a eficácia dos juros justamente quando anuncia que, em junho, pretende fazer uma pausa na distensão monetária.”

 

Os juros estão funcionando, mas não resolvem tudo”, diz um ex-diretor do BC. Ele lembra que, em 2017, a economia andou com a ajuda da liberação de recursos do FGTS, com a boa safra agrícola e ganhos de renda real provocados pela queda da inflação. “Se os juros não tivessem caído, a situação seria ainda pior.”

 

Essa não é a primeira vez que os economistas desconfiam que os juros perderam a potência. Nos ciclos de baixa de 2003 e 2006, o BC publicou estudos semelhantes para dizer que os estímulos chegariam à economia, bastava esperar. Em 2005 e 2008, sustentou a eficácia dos apertos. Em todos os casos, estava certo.

 

Desta vez, o que deixa os economistas inquietos é que já faz algum tempo que o BC começou a cortar os juros (outubro de 2016), mas os dados mais recentes são fracos. O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) teve queda de 0,65% em janeiro e alta de apenas 0,09% em fevereiro. O BC diz que oscilações de curto prazo nos dados são normais e mantém a sua avaliação de que a economia apresenta “recuperação consistente”.

 

“A atividade de fato desapontou”, diz um outro ex-diretor do BC. “Pode ser somente mais uma das muitas flutuações pelas quais passa um processo de retomada, sem nada de especial.” Mas ele pondera que também pode estar havendo algum entupimento na transmissão dos juros à economia.”

 

Há uma frustração com a recuperação, que está mais lenta que o esperado, o que não representa apenas oscilações”, afirma Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que tem acertado muito na leitura da economia durante e após a recessão. Uma evidência disso, afirma ela, é o fraco desempenho dos serviços, que pode ser explicado pela má qualidade da recuperação do mercado de trabalho e pelo desempenho aquém do esperado do crédito.

Pode ser, porém, apenas uma questão de tempo para os juros funcionarem a plenos pulmões. A defasagem com que os juros chegam na economia tem se alongado, à medida que a economia amadurece. Nos primeiros anos do regime de metas de inflação, levava de um a dois trimestres. Uma reestimativa feita pelo BC em 2015 em um dos mais sofisticados modelos de projeção econômica, o chamado Samba, mostra que o juro já leva de três a quatro trimestres para chegar à atividade. Há quatro trimestres, o Copom havia baixado os juros em 2 pontos percentuais; há três trimestres, a queda acumulada era de 4 pontos.

 

Um outro especialista em política monetária pondera que, mais do que a Selic, o que estimula a economia são os juros reais ex-ante (juros de um ano do mercado futuro menos inflação projetada), que têm uma alta correlação com a demanda privada (consumo mais investimento, exceto estoques) três ou quatro trimestres adiante. No primeiro trimestre de 2017, os juros reais médios estavam em 5,55% ao ano. É essa taxa ainda relativamente alta que determinou a atividade econômica que colhemos nos dados desde a virada do ano.

 

No segundo trimestre, a taxa real média caiu a 4,44% ao ano e, no terceiro, a 3,4% ao ano. Nessa época, o BC passou a afirmar nos seus documentos oficiais que a política monetária havia se tornado estimulativa. Esse impulso ainda está se transmitindo à economia. Nas últimas semanas, a taxa real caiu ainda mais, para 2,21%, o que representa um empurrão adicional – cujos efeitos serão sentidos entre fins de 2018 e começo de 2019.

 

O próprio BC reconhece que a transmissão da política monetária está sujeita a incertezas e quer mais tempo para analisar seus efeitos. Pela sinalizações feitas recentemente, o Copom pretende fazer uma pausa na baixa de juros a partir de junho para observar os dados – provavelmente por alguns meses – para checar se os estímulos tiveram o efeito desejado ou se foram muito fortes ou muito fracos. Daí, decidirá o que fazer.

 

Os juros afetam a economia por diversos caminhos, entre os quais os especialistas costumam destacar o chamado “canal intertemporal”. Quando o BC corta os juros, o crédito fica mais barato e incentiva as famílias a tomar empréstimos para comprar imóveis e bens duráveis. Juros mais baixos também incentivam empresas a investirem.Os economistas têm debatido se os bancos repassaram aos clientes os cortes da Selic. No relatório de inflação, o BC conclui que os juros bancários a pessoas físicas caíram de forma consistente desde outubro de 2016, acumulando recuo de 18,3 pontos percentuais, em linha com ciclos anteriores. Também conclui que as concessões reagem da forma esperada.

 

Alguns economistas chegaram a conclusões distintas, com metodologias diferentes. Ex-diretor de assuntos internacionais do BC, Tony Volpon, do Banco UBS, reuniu dados de 2006 a 2014 para estimar o comportamento dos juros bancários a pessoas físicas a partir de fatores como a Selic, a inadimplência e a lucratividade. Ele conclui que, em fevereiro, os juros bancários estavam 20 pontos percentuais maiores do que deveriam.”Tem alguma coisa estranha acontecendo”, diz Volpon. Ele não chegou a investigar a fundo o que fez os juros bancários caírem menos do que o esperado e não arrisca nenhum palpite – alguns analistas têm colocado a culpa na alta concentração bancária. Volpon diz que a falta de reação do crédito teve implicações práticas. “O Copom cortou os juros mais do que esperado neste começo de ano”, diz.

 

Outro canal que alguns economistas acham que está entupido é o dos investimentos. Os empresários estariam adiando projetos de expansão devido à alta capacidade ociosa, incertezas ligadas à eleições e o alto endividamento. Alguns afirmam que a redução nos desembolsos do BNDES, depois que foram reformadas suas taxas de empréstimo, pode ter afetado investimentos. O BC publicou estudo em seu relatório de inflação que mostra que as empresas substituíram os empréstimos bancários por captações no mercado de capitais.

 

Volpon vê indícios de que os juros estão se transmitindo pela depreciação cambial, que puxa a demanda externa. Depois de bater na mínima de R$ 3,12 no começo do ano, o dólar subiu acima de R$ 3,40, em parte pelas incertezas sobre as eleições. “O canal do câmbio pode compensar um pouco da perda de efetividade na transmissão monetária pelo crédito”, diz.

 

(Notícia retirada integralmente do site https://valor.com.br/financas/)
*As opiniões expressas neste artigo não expressam, necessariamente, a opinião da IBBRA – Consultoria Financeira.


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